terça-feira, 28 de agosto de 2007

O crescimento chinês e o anti-americanismo

Recentemente uma matéria do jornal New York Times(essa matéria infelizmente saiu do ar, só está disponível para compra) questionou os dados do crescimento econômico chinês. A primeira razão apontada pelo autor para questionar o crescimento de mais de 10% ao ano é que, como a economia chinesa no campo está estagnada, as cidades, que representam um terço da economia, teriam que crescer cerca de 30% ao ano, mesmo crescendo muito, isso é quase impossível. Esse argumento é bastante questionável, o segundo é extremamente consistente.

Muito mais fácil do que medir o PIB é medir o consumo de energia, por isso esses dados são bem mais confiáveis. O que se verifica na correlação entre PIB e consumo de energia é que a elasticidade entre o consumo de energia e o crescimento do PIB é maior do que 1. Em geral, em países que crescem rápido, o PIB cresce 45% aumento do consumo de energia. O Japão conseguiu que o seu PIB crescesse 60% aumento no consumo de energia quando estava desativando sua indústria de alumínio (que consome absurdos de energia). Se a China conseguir média semelhante à japonesa, está crescendo cerca de 6% ao ano. O mais provável é algo em torno de 5%, sem dúvida um ótimo crescimento, mas longe dos 10-12% anunciados.

Certamente esse estudo deve frustrar (e talvez revoltar) muita gente. Alguns ficarão frustrados porque sabem dos impactos do crescimento econômico em termos de bem-estar e por isso “torcem” que os países cresçam o máximo possível. É um pensamento bastante inteligente e sensato. O que é menos sensato é o outro possível motivo de frustração. É que a China é a esperança dos que “torciam” para a URSS, depois pro Japão, depois pra UE, dos que vibraram com a crise do petróleo e com o 11 de setembro. O negócio é secar os EUA, torcer que outra potência se torne hegemônica, e a China soava como nova candidata.

Todo mundo pode gostar ou não dos EUA (eu adoro, a maioria dos brasileiros odeia). O que não faz sentido é dizer que é o “imperialismo mais perverso já praticado” ou ainda pensar que a China seria melhor. A hegemonia americana se baseia principalmente em exportar a cultura norte-americana (fazendo as pessoas consumirem produtos deles), novamente é possível gostar ou não, agora, convenhamos, é muito melhor do que invasão militar, como foi praticado por praticamente todas as grandes potências ao longo da história (vão contrapor isso com a invasão do Iraque, mas isso é muito mais uma exceção do que uma regra para a “imposição” da hegemonia norte-americana). Além disso, acho que ninguém em sua razão pode afirmar que a China seria uma boa potência hegemônica. As instituições chinesas são atrasadas e a democracia passa longe de lá, não me parece que ter essa cultura como hegemônica seria bastante problemático.

Matéria do NYT(só dá pra ler a introdução):http://select.nytimes.com/gst/abstract.html?res=FA071EFB3C5B0C7A8DDDA10894DF404482

2 comentários:

baldus disse...

Tive a sorte de ler a reportagem enquanto grátis no site. Muito boa, nela existem fatos que podem mesmo ir contra esse fabuloso crescimento chines. É inegável que a China está crescendo, mas a essa taxa, visto que a populção está mais concentrada no campo e que esse setor nao mostra um progresso notável, as cidades entao, teriam de crescer 33% ao ano pro país crescer a esses 10-12%. Um pouco dificil nao?? Diria eu impossivel, é como querer que o Corinthians ganhe do Sao Paulo. Simplesmente NÃO TEM COMO.
O mito do crescimento chinês, FATO
E às viúvas da URSS, só lamento.

Marcelo B.N disse...

O Sala-i-Martin também comenta alguma coisa sobre isso, pra ele a China cesce algo em torno de 4,5% a.a
"Nada como uma boa ditadura socialista" já diria um querido professor