O deputado Jean Wyllys do PSOL-RJ
disse recentemente que não acha que os deputados brasileiros recebam um salário
elevado demais e que aqueles que reclamam desse salário deveriam, antes disso,
reclamar dos salários dos executivos das grandes empresas, por serem muito mais
elevados que os dos deputados. Não sei se a falha do deputado em reconhecer a
diferença crucial entre salários que são pagos com impostos e aqueles que são
pagos com dinheiro privado foi intencional ou não, mas o tema merece atenção.
O salário de um executivo é pago
com as receitas da empresa onde ele trabalha. Ele só justifica um salário
elevado se gerar para a empresa valor igual ou maior do que o salário que está
recebendo. Uma empresa que pagar aos seus trabalhadores salários maiores do que
o valor que eles estão agregando logo vai à falência. Além disso, só pagam,
indiretamente, os salários dos executivos de uma empresa os consumidores que
optarem por comprar produtos dela. Se salários milionários dos executivos
inflarem os custos e, consequentemente, os preços dos produtos da empresa, os
consumidores irão buscar produtos mais baratos na concorrência e a empresa irá
à falência, ou terá que rever sua política de remuneração.
Essas regras, que fazem com que os
executivos recebam um salário compatível com sua produtividade, não valem no
setor público, especialmente no Congresso Nacional. Se os deputados ou outros
servidores públicos não estiverem fazendo um bom serviço, não temos a opção de
deixar de pagar impostos porque não estamos satisfeitos com seu trabalho. Como
o próprio nome diz, impostos são compulsórios, e cobrados sob ameaça de uso da
força. Entre os congressistas, é ainda mais grave porque eles votam o próprio
salário. Se esse salário não for compatível com o trabalho que realizam, não há
uma punição direta, como nas empresas. Houvesse tal punição, o Congresso
Nacional já teria decretado falência muito tempo atrás. Manifestações como a do
deputado mostram que o trabalho de muitos dos nossos congressistas, mesmo que
fosse de graça, já sairia caro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário