quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Barreiras policiais

Suponha a seguinte situação:

Você está passeando com a sua alma gêmea pela Cidade Baixa à noite, procurando algum boteco onde a cerveja custe menos de R$ 3,50 (sem que isso implique a nem sempre proveitosa companhia de mendigos) quando, subito, se defronta - em plena calçada e sem razão aparente - com uma fila de transeuntes. Além da fila, você vislumbra meia dúzia de policiais revistando meticulosamente cada um dos pedestres. Sem entender muito bem, você cutuca o sujeito que está na sua frente.

- E aí, meu velho, que que tá rolando aí?
- Ah... Parece que, como a criminalidade tá muito alta por estes lados, a polícia agora está fazendo essas blitz na calçada, procurando armas, canivetes e essas coisas, saca...
- Hmm...

Você olha pra sua companhia com ar um tanto constrangido (afinal, ninguém gosta de ser encarado como delinqüente) e se resigna, pacientemente, a esperar a sua vez de ser revistado.

Esta situação é análoga a que as blitz e barreiras realizadas devido à Lei Seca submetem os motoristas.

A maior diferença é que seria mais razoável praticar essas blitz em pedestres do que em motoristas, uma vez que a chance de uma pessoa ser assaltada em nosso país é maior do que a de se envolver em um acidente de trânsito (e também porque imagino que o propósito de todo governo é combater os males maiores antes dos menores).

De qualquer forma, em ambos os casos, temos a restrição do direito de ir e vir, um cerceamento à liberdade do indivíduo.

Fique claro, minha crítica não é quanto ao rigor da nova lei, muito embora acredite que o limite de consumo de álcool imposto pela lei anterior já era bastante razoável; meus questionamentos se voltam para a forma como a fiscalização vem sendo executada, tratando cada motorista como um criminoso em potencial.

Nas calçadas, nunca vi nenhum policial abordar pedestres sem que houvesse razão para tal. Os políciais costumam parar somente aqueles que, pelo seu critério, possam estar envolvidos em práticas criminosas.

No trânsito, o critério deveria ser o mesmo. Os policiais ficariam postados em determinados pontos, discretamente, observando o fluxo. Ao detectarem algum carro sendo guiado de forma irregular, fazendo barbeiragens ou em velocidade acima da permitida, parariam este veiculo e abordariam seu motorista, realizando as checagens pertinentes.

Dessa forma obteríamos resultados semelhantes àqueles que vêm (?) sendo alcançados em decorrência das barreiras - uma vez que a possibilidade de estar no campo de visão de um policial desestimularia o motorista a encher a cara antes de dirigir - sem ter que partir do pressuposto que cada motorista é um criminoso.

6 comentários:

Marcelo B.N disse...

Isso abriria a possibilidade de discriminação do tipo "uno 92 é carro de quem dirige bêbado, celta não tem problema e civic top a gente para só por parar".

Blitz na rua é chato, tira liberdade e tal, mas de um certo modo dá uma liberdade. Se tu sabe que um sujeito não está armado tu pode "mandar ele longe", agora se há a possibilidade de o idiota estar armado...
(já no texas todo o mundo tem uma arma, o que equivale a ninguém ter uma :P)

Agora o que realmente presta no meu comentário: haha Pato está apaixonado.
E outra, até parece que tu não conhece todos os bares que vendem cerveja a menos de 3,50 na cidade baixa, além dos atalhos pra eles.

Pato disse...

"uno 92 é carro de quem dirige bêbado, celta não tem problema e civic top a gente para só por parar".

Mas não é mais ou menos isso que é feito com quem anda a pé? Eles vêem o sujeito vestido mais "na humildade" e atrack nele. Esse preconceito por parte da autoridade quanto a certos arqétipos é outro problema sério...

Mas a minha intenção maior com o post foi mostrar que praticar blitz no trânsito é tão razoável quanto aplicá-la na calçada, sendo que neste último caso tal atitude se justifica melhor, uma vez que é bem mais provável tu ser assaltado do que se envolver num acidente de automóvel... First things first. :D

(Até sei alguns bares que ainda vendem Polar por menos de 3,50... espécie em extinção, para nosso desespero)

Marcelo B.N disse...

é, de fato acontece. Tem que parar todo o mundo!
Imagina se alguém anda com uma chave de fenda na bolsa!

Uma idéia legal era tentar estimar os valores perdidos com acidentes de carro e com assaltos pra ver o que é maior, pq comparar só número de assaltos e acidentes de carro é como dizer que o Brasil é mais rico que Luxemburgo.

Pato disse...

"Uma idéia legal era tentar estimar os valores perdidos com acidentes de carro e com assaltos pra ver o que é maior, pq comparar só número de assaltos e acidentes de carro é como dizer que o Brasil é mais rico que Luxemburgo."

Quais valores? Nessa conta, deveríamos levar em consideração danos psicológicos (e suas respectivas taxas de redesconto)?

Difícil. Ser assaltado na frente de casa por um cara com um 38 niquelado de cano longo (quer coisa mais magal?!) é foda. Se eu soubesse qual é a desutilidade de um tiro na cabeça (e tivesse a certeza de que o pobre coitado seria preciso)... Não sei... não sei...

Marcelo B.N disse...

E o trauma de bater o carro?

falava só de bens materias. Até pq os danos psicológicos são de cada um, não cabe ao estado decidir o que é mais forte ou não.

Pato disse...

"falava só de bens materias. Até pq os danos psicológicos são de cada um, não cabe ao estado decidir o que é mais forte ou não."

Pelo menos, nos assaltos e acidentes que envolverem vítimas, a gente pode tomar que "uma vida vale tanto quanto outra" como identidade contábil... :D